quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Regar ou encharcar?

“Teaching should not be compared to filling a bottle with water but rather to helping a flower to grow in its own way.”
Chomsky

A frase acima parece-me, sem sombra dúvida, uma lição a não ser esquecida por todos os professores.

No entanto, não se deve cair na tentação de ler erradamente que o ideal é apenas a aprendizagem pela descoberta. Sobre este assunto, Nuno Crato, escreveu um texto fabuloso no Expresso (http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/484409&q=crato&page=1&num=10).

Relembra ele que, apesar de várias teorias pedagógicas apresentarem a instrução directa como nociva para a verdadeira aprendizagem e para a criatividade, muitos estudos vieram moderar este ponto de vista, preconizando uma mistura da redescoberta activa, guiada pelo professor, com a instrução directa.

Na verdade, os resultados revelam que a percentagem de sucesso das crianças sujeitas a instrução directa é muito maior que a das crianças entregues a um processo de aprendizagem pela descoberta. E mais: as crianças que apreenderam o método por instrução directa são tão capazes de o aplicar em situações novas como as que o descobriram por si. Ou seja, o ensino directo não parece ser inimigo da criatividade, nem do pensamento independente.

O exemplo dado por Nuno Crato é elucidativo. Conta ele que, tendo necessidade de se deslocar a uma rua esconsa do Bairro Alto, na primeira vez atravessou a pé o emaranhado de ruas, fez vários erros e só após algumas voltas deu com o lugar. Da segunda, confiando na experiência e na intuição, voltou a errar e só deu com o sítio após várias tentativas. À terceira, explicaram-lhe o caminho e não voltou a enganar-se.

As primeiras voltas constituíram uma aprendizagem pela descoberta e, como se percebe, não foram muito eficazes. Nas últimas, por instrução directa, memorizou um caminho e não voltou a falhar.

Como ele próprio diz, se tivesse continuado a procurar às apalpadelas, talvez tivesse conseguido encontrar esse caminho óptimo, mas o processo teria sido muito ineficiente.

A sua conclusão é natural: "Da próxima vez que procurar uma rua no Bairro Alto, vou pedir que me ensinem o caminho".

Enfim, como diziam os chineses, "o professor abre a porta, mas é o aluno que tem de entrar".

Repare-se que as duas coisas são precisas: a acção do aluno, mas também a capacidade do professor abrir a porta.

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