terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A distância traz discernimento?

Um amigo que muito prezo e com quem aprendi e aprendo todos os dias disse-me, numa lição que não esqueço, que «o ser que menos percebe de água é o peixe, pois passa a vida dentro dela».

A verdade é que se a proximidade permite ver o pormenor, só alguma distância nos torna capazes de perceber todo o quadro.

Vá-se lá saber porquê, lembrei-me disto ao ler o artigo do “El País” sobre o Alberto João Jardim.

Está aqui: http://www.elpais.com/articulo/reportajes/Presidente/eterno/elpepusocdmg/20090125elpdmgrep_6/Tes
E, já agora, a análise do DN ao mesmo está aqui: http://dn.sapo.pt/2009/01/27/nacional/el_pais_compara_jardim_a_muammar_kad.html

sábado, 17 de janeiro de 2009

Nestes casos, será adequado dizer "santinho"?

"Espirrar pode estar relacionado com excitação sexual. Quem o diz são dois médicos britânicos, num estudo divulgado na publicação científica Journal of the Royal Society of Medicine.
A ligação entre um ataque de espirros e a excitação sexual é explicada através de uma falha no sistema nervoso, dizem os especialistas. Embora não aconteça com toda a gente, o fenómeno é mais comum do que se pensa e pode até mesmo ser genético. (...)"

In "Expresso"

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Os mísseis do Hamas são de chocolate?

Apenas porque me faz alguma confusão os pontos de vista estranhamente unânimes, como, neste caso, a constante aparição de Israel como o mau da fita, não posso deixar de aconselhar a leitura do artigo de Inês Pedrosa, publicado na "Única".

Os mísseis do Hamas são de chocolate
Inês Pedrosa

O Hamas tomou a iniciativa de bombardear Israel, a 19 de Dezembro, ninguém disse nada. Ou melhor: as vozes do costume começaram a vituperar Israel como origem de todos os males. A cultura judaica faz mal, mediaticamente falando, em esconder os seus feridos e mortos. O dever da coragem e a recusa da vitimização tem sido a chave da sobrevivência histórica do povo judeu, que vive, desde há muitos séculos consecutivos, em perseguição e diáspora. Mas no mundo de hoje, feito da injustiça do instantâneo global, a exibição do sofrimento é rainha absoluta. Toda a gente sabe que, para o fundamentalismo islâmico, a vida humana é desprezível - em particular a das mulheres e a das crianças. Toda a gente sabe porque os fundamentalistas não o escondem; consideram, aliás, que o martírio é a grande redenção e promoção da espécie humana. Assim sendo, as sedes do Hamas são difíceis de detectar e estão, estarão sempre, cheias de civis inocentes prontos (voluntária ou involuntariamente, como é o caso das crianças) a marchar em glória para um céu, de facto menos infernal do que a vida terrena tal como eles a permitem. E não têm qualquer pudor em exibir corpos esfacelados, crianças aterrorizadas ou mortas - usam-nos como cartaz. Funciona - como não havia de funcionar? Como não nos comoveremos com essa inominável dor?

Dos estragos causados em Israel pelos bombistas suicidas ou, agora de novo, pelos mísseis do Hamas, não temos imagens. E a comunidade internacional comporta-se como se os mísseis do Hamas fossem, de facto, de chocolate - inocentes, inócuos. Israel esconde a morte, para que a população não desmoralize. Israel é, desde a sua nascença, em 1948, um país debaixo de ataque - e essa é a grande questão. Na resposta à guerra que, desde o primeiro dia, lhe foi movida pelo conjunto dos países árabes, Israel cometeu erros calamitosos. Mas hoje, agora, em 2009, não é por causa de Israel que a paz se afigura impossível. O Hamas, que controla a faixa de Gaza, não reconhece o direito à existência de Israel. E por isso ataca. Ataca porque sabe que Israel terá de responder a esses ataques - e que, ao responder, será automaticamente criticado por todo o mundo, porque o poderio militar e económico de Israel é infinitamente superior ao do governo (e governo eleito, note-se) do Hamas. Um monstro rico atacando um menino pobre, pronto. Que seja sempre o menino pobre a atirar a matar, não interessa nada - a violência justifica-se com a pobreza. Mas esta justificação também já está, há demasiado tempo, sem pés para andar: porque será que tantos povos que vivem na miséria (designadamente em África) não recorrem à violência, e porque serão alguns países tão ricos (veja-se a Arábia Saudita, por exemplo) tão violentos para com metade da sua própria população (a que tem o azar de nascer do sexo errado, ou de gostar do sexo errado)?

O escritor israelita Amos Oz escreveu uma crónica intitulada "Israel deve defender os seus cidadãos" ("Público", 31/12/2008) cuja primeira linha dizia isto: "O bombardeamento sistemático dos cidadãos das povoações israelitas é um crime de guerra e um crime contra a humanidade". Amos Oz é insuspeito de sionismo ou de ser um "falcão" belicista. Mas também não é, como ele próprio já escreveu (em "Contra o Fanatismo", edição Ediouro, Brasil) "um pacifista no sentido sentimental da palavra", e explica porquê: "No meu vocabulário, a guerra é terrível, mas o mal supremo não é a guerra, e sim a agressão. Se em 1939 o mundo todo, excepto a Alemanha, defendesse que a guerra era o fenómeno mais terrível do mundo, Hitler seria, então, senhor do universo, agora."

O problema é precisamente este: o mundo de hoje divide-se entre pacifistas sentimentais e senhores da guerra. As democracias são canjas de gente pacífica que, fundamentalmente, não toma partido - bradam pela "paz" e deixam passar os massacres, debaixo do seu nariz. Os exércitos de "manutenção de paz" da ONU são, na melhor das hipóteses, uma espécie de guarda de honra das organizações de socorro humanitário.

Israel está a tentar (escrevo na terça-feira) desmembrar o Hamas - a incursão terrestre serve para isso, para minimizar as vítimas civis. Mas, perante um Hamas que proclama "Nós acreditamos na morte", haverá sempre muitas vítimas civis. Se o Governo de Israel não contra-atacasse, em defesa dos seus cidadãos, a extrema-direita israelita cresceria, e muito, nas próximas eleições - o que seria óptimo para a estratégia do Hamas, que é a de criar ódio contra a própria existência de Israel. Por outro lado, contra-atacando, como está a fazer, faz crescer o anti-semitismo internacional - sim, é sempre disso que se trata. Tzipi Livni, a ministra dos Negócios Estrangeiros israelita, repete incessantemente que estão apenas a agir em legítima defesa, apenas e só até que acabem os ataques do Hamas. Mas a dor de Israel nunca se vê. "Israel é um país; o Hamas é um gangue", escreve Amos Oz. Antes de percebermos isto não perceberemos nem resolveremos nada.

Regar ou encharcar?

“Teaching should not be compared to filling a bottle with water but rather to helping a flower to grow in its own way.”
Chomsky

A frase acima parece-me, sem sombra dúvida, uma lição a não ser esquecida por todos os professores.

No entanto, não se deve cair na tentação de ler erradamente que o ideal é apenas a aprendizagem pela descoberta. Sobre este assunto, Nuno Crato, escreveu um texto fabuloso no Expresso (http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/484409&q=crato&page=1&num=10).

Relembra ele que, apesar de várias teorias pedagógicas apresentarem a instrução directa como nociva para a verdadeira aprendizagem e para a criatividade, muitos estudos vieram moderar este ponto de vista, preconizando uma mistura da redescoberta activa, guiada pelo professor, com a instrução directa.

Na verdade, os resultados revelam que a percentagem de sucesso das crianças sujeitas a instrução directa é muito maior que a das crianças entregues a um processo de aprendizagem pela descoberta. E mais: as crianças que apreenderam o método por instrução directa são tão capazes de o aplicar em situações novas como as que o descobriram por si. Ou seja, o ensino directo não parece ser inimigo da criatividade, nem do pensamento independente.

O exemplo dado por Nuno Crato é elucidativo. Conta ele que, tendo necessidade de se deslocar a uma rua esconsa do Bairro Alto, na primeira vez atravessou a pé o emaranhado de ruas, fez vários erros e só após algumas voltas deu com o lugar. Da segunda, confiando na experiência e na intuição, voltou a errar e só deu com o sítio após várias tentativas. À terceira, explicaram-lhe o caminho e não voltou a enganar-se.

As primeiras voltas constituíram uma aprendizagem pela descoberta e, como se percebe, não foram muito eficazes. Nas últimas, por instrução directa, memorizou um caminho e não voltou a falhar.

Como ele próprio diz, se tivesse continuado a procurar às apalpadelas, talvez tivesse conseguido encontrar esse caminho óptimo, mas o processo teria sido muito ineficiente.

A sua conclusão é natural: "Da próxima vez que procurar uma rua no Bairro Alto, vou pedir que me ensinem o caminho".

Enfim, como diziam os chineses, "o professor abre a porta, mas é o aluno que tem de entrar".

Repare-se que as duas coisas são precisas: a acção do aluno, mas também a capacidade do professor abrir a porta.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Amor ou ódio?

A Nike comemorou a vitória de Cristiano Ronaldo, que ganhou o troféu de Jogador do Ano 2008 atribuído pela FIFA, com o lançamento de um vídeo. Intitulado "Love/Hate”, o filme mostra vários adeptos de futebol que adoram o atleta português e outros que o detestam.
A assinatura da peça vale a pena:

“O teu amor faz-me mais forte. O teu ódio torna-me imparável.”


Curiosidade: O próprio Cristiano Ronaldo aparece disfarçado no vídeo.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O apelo do ano?

"Ó pai, quero voltar para o fim-de-semana!"
Pedido do meu terrorista de 3 anos, ao ser deixado no colégio

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Apaixonados como no primeiro dia?

"Apaixonados como no primeiro dia? Impossível, não podem estar a falar a sério". Durante muito tempo, foi justamente isso que Arthur Aron pensou, ao ouvir casais afirmarem que a chama da paixão se mantinha acesa após mais de 20 anos de vida em comum. Mas, e se estivessem, de facto, a falar a sério? Psicólogo da Stony Brook University, de Nova Iorque, nos Estados Unidos, Arthur Aron ficou intrigado com estes relatos de eterna felicidade conjugal e, afinal, é mesmo assim: o estudo que conduziu indica que, para uma afortunada minoria - um em cada dez dos casais analisados -, o amor pode mesmo durar a vida inteira.

Segundo a edição online de ontem do Sunday Times, a equipa de investigadores comparou, através de scanner cerebral, as reacções químicas manifestadas por casais de longa data e por casais em início de relacionamento amoroso. Os resultados foram surpreendentes: o cérebro de alguns casais, juntos há mais de 20 anos, libertou os mesmos níveis de dopamina - neurotransmissor associado às sensações de prazer - encontrados na fase inicial do enamoramento. Mas, sublinham os investigadores, sem o quadro obsessivo que também caracteriza esse estado nascente, o que poderá indiciar uma maior maturidade no relacionamento destes casais que, passado o teste do tempo, podem dizer com segurança ter encontrado a sua "alma gémea".

"Estes resultados vão contra a visão tradicional de que a paixão esmorece dramaticamente durante os primeiros dez anos de relacionamento, mas agora sabemos que o contrário é possível", afirmou Arthur Aron, citado pelo Sunday Times.

Aos casais imunes ao declínio da paixão, a equipa de investigadores da universidade nova-iorquina atribuiu a designação de "cisnes", uma das espécies que, no mundo animal, dedica toda a sua vida ao mesmo parceiro.

In DN

domingo, 4 de janeiro de 2009

Diferente mas igual?

"Uma crise que começou por deixar mais pobres os muito ricos não é uma crise como as outras. Mas se alguma certeza existe em comum com as demais crises é a de que, como sempre, serão os mais fracos a pagar, na economia real, a pesada factura daquilo que os mais ricos perderam na alta finança especulativa e criminosa."
Fernando Madrinha in "Expresso"