(…) Não faz mal nenhum que uma criança minta, aliás é absolutamente irrelevante e não quer dizer nada sobre o seu carácter. Uma criança mentir não prenuncia que o menino vai ser administrador do BPN ou que vai gerir um produto financeiro tóxico quando for grande.
Nada disso: mentir é uma atitude perfeitamente infantil que só deve ser permitida a menores de seis anos. A regra devia ser: quem tem idade para ir ao cinema já não pode mentir.
Há duas maneiras de lidar com a mentira de um filho. Uma é engoli-la: «Ah? foi um monstro verde que comeu o chocolate. Malandro do monstro! Já deve estar cheio de dores de barriga, o guloso. Ainda por cima o chocolate estava estragado»; a outra é evitá-la, não encurralando a criança. Agora levar a mentira a sério e desmontá-la é passar-lhe um atestado de maturidade, é elevá-la ao nível das comissões parlamentares de inquérito, por exemplo. Encarar com seriedade a mentira de uma criança é convidá-la a desenvolver a técnica da mentira: «Espera aí, se ela não engoliu a treta do monstro, vou dizer que foi a avó», e vão por aí fora. Até que um dia chegam a casa aos gritos: «Pai, pai: sou ministro».
Inês Teotónio Pereira in "i"
2 comentários:
Muito bom!
O Osho dizia em tempos que "para ser político apenas é necessário ser possuidor de um enorme sentimento de inferioridade".
O que leva uma criança a mentir muitas vezes? O medo de ser, de alguma forma, inferiorizada... :)
Concordo com o Gaspar, não só na política, mas todo o desejo de poder, sem o objectivo em seu uso é uma prova da existência de um complexo de inferioridade.
Como diria meu pai: "Froid explica..."
Como diria Caetano: "...ou não!"
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