«A diferença é que, hoje, eu, como qualquer um, digo o que penso, mas não posso impedir que escutem as minhas conversas ao telefone ou num restaurante e que depois elas sejam plasmadas num jornal, para que o pagode se regale. É isso, antes de tudo o resto, que me preocupa.
E, preto no branco: no lugar do director do "JN", José Leite Pereira, eu também não teria consentido a publicação da crónica de Mário Crespo. Porque não aceito, como regra deontológica do jornalismo, a publicação de notícias fundadas numa fonte anónima que escutou conversas privadas, mesmo em local público. E porque também não o aceito como regra de educação. Nunca o fiz e nunca o farei - e também o poderia fazer abundantemente.
E sinto asco quando vejo o director do "Sol" vir agora revelar o suposto teor de uma conversa com Sócrates, num almoço em que foi como convidado a S. Bento e onde o PM lhe teria feito confidências gravíssimas. Com gente desta não quero almoçar. (Não deixo, aliás, de achar extraordinário que o mesmo "Sol" ande aí a gritar aos quatro ventos que o Governo português quis comprar a sua liberdade, aproveitando as dificuldades financeiras do jornal, quando, tanto quanto sei, eles se abriram, directa ou indirectamente, aos dinheiros do mais corrupto Governo do planeta).»
Miguel Sousa Tavares in "Expresso"
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