segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Esta juventude está perdida?

Um texto de Daniel Oliveira, já com algum tempo, mas a não esquecer.

Numa manifestação de estudantes, um jovem de 13 anos, inspirando-se no ‘Gato Fedorento’, empunhava um cartaz: “queremos tipo coisas fixes”. A auto-ironia, sinal de inteligência apurada, é uma excelente resposta a um país deprimido com os seus jovens, submerso em reportagens e textos de auto-ajuda, colunistas do Apocalipse e telepsicanilistas. Os jovens hoje são ignorantes, escrevem com abreviaturas e não se movem, como no passado, por grandes causas. É o que se diz no intervalo de cada novela. E, no entanto, se olharmos com atenção, querem o mesmo que queriam os seus pais: coisas fixes.

Toda a gente vive angustiada com esta juventude sem rumo. Os pais não têm tempo para os filhos. Como se antes passassem horas de brincadeira, aventura e descoberta com eles. Os filhos levam uns sopapos na escola, a que se deu o pomposo nome de “bullying”. Como se antes reinasse a paz e a harmonia entre os colegas. Os adolescentes apanham grandes bebedeiras de noite. Como se antes bebessem Caprissumo. E os jovens querem “tipo coisas fixes”, como se antes quisessem disciplina ou procurassem as causas das suas vidas. A escola portuguesa é medíocre. Como se antes fosse um espaço de excelência onde pululavam mestres inesquecíveis.

Para percebermos os adolescentes, não precisamos de muito. Basta recordar a nossa adolescência e acrescentar-lhe quatro coisas: computador em casa, escolas com gente de todas as classes, a certeza de que no futuro nada está seguro e pais angustiados com medo de falhar. É tudo tão simples como sempre foi, tão doloroso como a adolescência sempre foi: querem coisas fixes e as coisas fixes não acontecem

1 comentário:

Anónimo disse...

na crise de meia idade é quase como na adolescência, também se quer as coisas fixes que não aconteceram. e ainda não se cresceu o suficiente para se perceber que as que queríamos nunca virão